Significação desse grande monumento ainda nos escapa; nós, que mandamos espaçonaves aos planetas, ainda paramos maravilhados diante desse monstro de pedra e tentamos imaginar em vão os motivos da estranha gente que a construiu. Uma vasta cabeça humana com toucado real ergue-se nove metros acima do corpo de leão com setenta e dois metros de comprimento, esculpido em sólida rocha. Suas feições altivas desprezam as mutilações dos homens e olham com sorriso enigmático através do Nilo, além do sol nascente, transcendendo espaço e tempo, para o infinito insondável do universo.
Sua fisionomia serena brilha com um poder cósmico, irradiando uma aura que acalma as mentes das pessoas, evocando ecos de uma idade, de uma civilização gloriosa e maravilhosa governada pelos deuses. Uma tão grande nobreza dominando as paixões transitórias da humanidade lembra aquelas cabeças colossais da pré-história esculpidas nos picos dos Andes e na Ilha de Páscoa, no Oceano Pacífico.
Durante séculos esse animal de pedra viu o homem primitivo começar de novo a civilização, depois as areias móveis engoliram-na esconderam-na da vista e da memória humana. Há seis mil anos, na Quarta Dinastia, o Rei Khafra (Kefren ou Quéfren) desenterrou o monstro e garantiu a sua imortalidade inscrevendo o seu cartucho real no lado da Esfinge, mas as areias ameaçavam enterrá-la novamente. Tutmósis IV, quando jovem príncipe, um dia, por volta de 1450 a.C., cansado de caçar, adormeceu entre as grandes patas, quando o deus Sol lhe apareceu em sonho e o impeliu a afastar as areias que o cobriam.
Em 162 d.C. o Imperador Marco Aurélio olhou com olhar compreensivo e desenterrou a Esfinge para que os homens pudessem admirá-la. Mas nos tempos cristãos só o seu rosto esbranquiçado, batido pelo fogo dos mosquetes turcos, espreitava acima da areia... até que no século XIX os egiptólogos trouxeram a maior parte dela à luz; mas ainda agora alguma grande tempestade pode enterrá-la novamente.
Acredita-se que os atlantes adoravam o Sol puramente como representação física do logos solar; quando seus adeptos emigraram para o Nilo, estabeleceram aí a religião do Sol e construíram a grande pirâmide e a Esfinge. Dizem os iniciados que essa cabeça humana sobre um corpo de leão simboliza a evolução do homem desde o animal, o triunfo do espírito humano sobre a besta. Debaixo do monstro devia haver um templo que se comunicava com a grande pirâmide, onde há milênios neófitos de vestes brancas procuravam iniciação nos mistérios da ciência secreta. Milênios mais tarde os sacerdotes egípcios relacionaram a Esfinge com Harmachis, um aspecto de Ra, o deus Sol.
A antiga Índia relacionava a Esfinge com Garuda, meio homem, meio ave, o carro celeste dos deuses; os antigos persas identificavam a Esfinge com Simorgh, uma ave monstruosa que de vez em quando pousava na Terra, outras vezes andava no oceano, enquanto com a cabeça sustentava o céu. Os magos da Babilônia ligavam Simorgh à Fênix, a fabulosa ave egípcia que, acendendo uma chama, consumia a si mesma, depois renascia das chamas, possivelmente um símbolo da renovação da raça humana depois da destruição do mundo. Os povos do Cáucaso acreditavam que o Simorgh alado ou cavalo de doze pernas de Hushenk, mestre lendário que diziam ter construído Babilônia e Ispaã, voou para o norte, através do Ártico, para um continente maravilhoso. Um sábio caldeu disse a Cosmos Indicapleustes no século VI d.C.:
... As terras em que vivemos são rodeadas pelo oceano, mas além do oceano há outra terra que toca o muro do céu; e nessa terra é que o homem foi criado e viveu no paraíso. Durante o dilúvio, Noé foi levado em sua arca para a terra que sua posteridade habita agora.
O Simorgh tornou-se a águia de Júpiter exibida nos estandartes das legiões romanas através do mundo antigo; símbolo de poder divino, foi adotada por Bizâncio e tornou-se a divisa heráldica do Santo Império Romano, quando, como águia de duas cabeças, foi ostentada pelos Habsburgos da Áustria; e ainda encontra lugar de honra nos brasões das poucas monarquias que restam atualmente.
A própria Esfinge conjura um mistério mais desnorteante, e contudo talvez mais cheio de humanidade do que nós compreendemos. Algumas pinturas egípcias mostram a Esfinge com asas e rosto humano, retrato de reis ou rainhas; pensamos nos famosos touros alados de Nínive. Os sacerdotes egípcios de Saís falaram a Sólon da grande guerra entre os atlantes e Atenas e disseram-lhe da relação entre o Egito e a Grécia; ficamos mais intrigados ainda ao descobrir ambos os países ligados pela Esfinge.
A mitologia grega representa a Esfinge como um monstro-fêmea, filha de Tifon e da Quimera, ambos monstros com hálito de fogo que devastaram a Ásia Menor, até que foram mortos por Zeus e por Belerofonte em batalhas aéreas que sugerem conflito entre astronaves. A Esfinge aterrorizava Tebas, na Beócia, a cidade mais célebre da idade mítica da Grécia, considerada a terra natal dos deuses Dionísio e Hércules. A esfinge grega tinha corpo de leão alado, peito e rosto de mulher. Pisandro disse que a esfinge veio para a Grécia da Etiópia, provavelmente querendo dizer o Egito. A esfinge tebana importunava os viajantes, propondo-lhes um enigma para decifrarem, depois devorava todos os que não podiam responder.